O Cantinho do André

Recordação do maior amigo que tive, que foi também o maior Benfiquista que conheci. Apesar da Tua morte tão prematura, que levou um jovem, mas sobretudo um Grande Homem, a Tua vida permanecerá para sempre como uma dádiva para quem teve a sorte de Te conhecer. Agora onde os justos descansam, e livre da doença que Te tolheu o corpo mas não o espírito, eu sei que ainda vives connosco. Obrigado, e desculpa, André.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Factos e números das contratações do Benfica

Este defeso foi pródigo em novelas, informação e contra-informação, com especial apetite pelas nossas contratações. Nada a que não estejamos habituados. Sobre o último episódio, o assédio frustrado a Hleb, não censuro os dirigentes do SLB pela frustração das negociações. Ninguém de bom senso se permitiria despender tanto dinheiro por um empréstimo de um ano.
O que a mim me preocupa, enquanto Benfiquista, são os sucessivos erros, e mais do que isso, o que eles nos têm custado. Sim, porque um Clube que em 2007 vê sair Miccoli ("bastavam" 4,5 milhões € para o segurar) e o capitão Simão (por 20 milhões, quando a cláusula tinha acabado de subir para os 25 milhões) com o argumento da sustentabilidade financeira, não pode em seguida, de ânimo leve, gastar largas dezenas de milhões de euros ao desbarato. Vamos a factos.


2007/2008:

_Sreten Sretenovic a custo zero, ex-Estrela Vermelha - FRACASSO desportivo e económico (veio a custo zero, e desvinculou-se para assinar pelo FC Timisoara)

_Freddy Adu ao Real Salt Lake - FRACASSO desportivo e económico (contratado por 1,5 milhões €, e com destino desconhecido, após ter sido devolvido pelo Aris e recusado pelo FC Sion)

_Marc Zoro a custo zero, ex-Messina - FRACASSO desportivo e económico (quase 200 000 euros mensais por 4 anos!!! Cáspite!)

_Gustavo Bergessio ao Racing Avellaneda - FRACASSO desportivo e económico (custou 1,7 milhões de euros por 50% do passe mas acabou dispensado)

_Angel Di Maria ao Rosário Central - SUCESSO desportivo (à 3.ª época, após 2 anos de fogachos) e económico (custou 8 milhões, o que rendeu ou renderá ao certo a sua venda ao Real Madrid não se sabe, mas excede com certeza o montante investido)

_Andrés Diaz ao Rosário Central - FRACASSO desportivo e económico (incluído no negócio Di Maria, jogou 3 minutos e procura agora clube na Argentina)

_Hans-Jörg Butt ao Bayer Leverkusen - FRACASSO desportivo e económico (veio e saiu a custo zero, para se tornar no titular da selecção alemã)

_Gilles Binya ao MC Oran - FRACASSO desportivo e económico (pagámos 400 mil euros, rescindiu e saiu sem contrapartidas para o Xamax)

_Rafik Halliche ao Hussein-Dey - FRACASSO desportivo (nunca vestiu de encarnado), SUCESSO económico (caso raro: 300 mil euros de custo para 2,5 milhões de euros de receita, 2,2 milhões de lucro)

_Maxi Pereira ao Defensor Sporting - custo de 3 milhões por 70% do passe, para já é aposta ganha

_Cristian Rodríguez a custo zero - FRACASSO

_Edcarlos Santos ao São Paulo FC - FRACASSO desportivo e económico (2 milhões pagámos, 1,3 recebemos pela alienação ao Cruz Azul)

_Luís Filipe ao SC Braga - custou 1 milhão de euros, nunca justificou até agora a aposta

_Fábio Coentrão ao Rio Ave - despesa de 1 milhão de euros, mas as exibições de sonho que tem feito no último ano farão pulverizar esse valor

_Óscar Cardozo ao Newell's Old Boys - custou 11,6 milhões de euros, e tem demonstrado que o caro pode sair barato, desde que haja competência

Subtotal: 15 aquisições, a um preço de 30 milhões e 500 mil euros




Janeiro de 2008:

_Aziza Makukula ao Sevilha FC - FRACASSO desportivo e económico (entre o pagamento ao Sevilha e a compensação ao Marítimo pela interrupção do empréstimo, custou 5 milhões, que não têm retorno à vista, e ainda arcamos com uma folha salarial a rondar os 100 mil euros/mês)

_Laszlo Sepsi ao Gloria Bistrita - FRACASSO desportivo (tantas observações para dar no que deu) e económico (custou 2,5 milhões, mas a sua venda ao FC Timisoara não valeu mais do que 1,2 milhões)

_Fellipe Bastos a custo zero (tendo posteriormente sido pagos ao Botafogo 154 mil euros pela formação do jogador) - FRACASSO desportivo (roda por empréstimo no Botafogo)

Subtotal: 3 aquisições, a um preço de 7 milhões e 650 mil euros


2008/2009:
_José Antonio Reyes por empréstimo do Atlético de Madrid + 2,5 milhões por 25% do passe - FRACASSO económico (veio por um ano, e a sua opção de compra não foi exercida, pelo que ainda se aguarda pela utilidade que esta percentagem possa vir a ter) e desportivo (época aquém das expectativas)

_David Suazo por empréstimo do Inter de Milão - FRACASSO desportivo (pouco acima da nulidade) e económico (pagámos-lhe 150 mil euros mensais, totalizando 1,8 milhões pelo tempo que cá andou, e só participámos de metade, pois a outra metade era paga pelo Inter)

_Javier Balboa ao Real Madrid - FRACASSO desportivo (já nem na segunda liga espanhola tem cartel) e económico (4 milhões deitados pela janela, que cumulam com os 52 000 euros mensais que tem auferido)

_Sidnei Junior ao Internacional de Porto Alegre - atendendo ao seu empenho, podemos esperar pelo regresso dos 7 milhões de euros investidos como por sapatos de defunto

_Jorge Ribeiro a custo zero, ex-Boavista - FRACASSO desportivo (está agora emprestado ao Vitória de Guimarães)

_Pablo Aimar ao Saragoça - custou 6,5 milhões e a sua performance desportiva não defraudou, só que as tem perspectivas de encaixe financeiro são diminutas

_Rúben Amorim ao Belenenses - o milhão de euros pago é de somenos face ao rendimento, e à valorização do seu passe (recebemos já 1,5 milhões com a venda de 50% do mesmo ao Fundo de Jogadores)

_Carlos Martins ao Recreativo de Huelva - os três milhões desembolsados têm vindo a ser remidos pelas prestações - nem sempre regulares, é certo - do internacional português

_Hassan Yebda a custo zero, ex-Le Mans - FRACASSO desportivo (actualmente cumpre o segundo ano de empréstimo, desta feita ao Nápoles)

_Jonathan Urretavizcaya ao River de Montevideo - dispêndio de 1,5 milhões, que prometem reproduzir-se na hora de vender (e já recebemos 1,2 milhões na venda de 20% do passe ao Fundo de Jogadores). Pena não ser aproveitado desportivamente

Subtotal: 10 aquisições, a um preço de 25 milhões e 500 mil euros



Janeiro de 2009
Não houve contratações a registar



2009/2010
_Ramires Nascimento ao Cruzeiro - SUCESSO desportivo e económico (7,5 milhões gastos, encaixe de 6 milhões por venda 50% dos seus direitos à Jazz Limited + 11 milhões pela outra metade na transferência para o Chelsea)

_Patric Lalau ao São Caetano - FRACASSO desportivo e económico (custou 2 milhões, mas logo foi emprestado ao Cruzeiro, que pouco depois o cedeu ao Avaí)

_José Shaffer ao Racing Avellaneda - FRACASSO desportivo e económico (como Patric, custou 2 milhões e não se aguentou muito tempo na Luz, está agora por empréstimo no Rosário Central)

_Javi Garcia ao Real Madrid - gasto de 7 milhões de euros, valor actual de mercado deve exceder essa quantia. Já recuperámos 3,4 milhões pela venda de 20% do passe ao Fundo de Jogadores

_Javier Saviola ao Real Madrid - custo de 5 milhões, que o jogador tem feito esquecer

_Weldon Andrade ao Sport Recife - contratado por 274 mil euros (o mais barato de sempre no consulado de LFV, só igualado por Armando Sá e um dos elementos com ordenado mais baixo do plantel), foi um tiro certeiro, mas continua tapado pelas vedetas

_Keirrison Carneiro por empréstimo do FC Barcelona - FRACASSO desportivo (veio por dois anos, ficou "apenas" 6 meses e não deixou saudade)

_César Peixoto ao SC Braga - custo de 500 mil euros que ainda não justificou

_Felipe Menezes ao Goiás - 1,5 milhões de euros que não têm retorno à vista. Excelente oportunidade de negócio? Só para quem o vendeu...

Subtotal: 9 aquisições, a um preço de 25 milhões e 774 mil euros


Janeiro de 2010

_Alan Kardec ao Vasco da Gama - despendemos 2,6 milhões de euros, vendemos 50% do passe ao Fundo de Jogadores por 3 milhões

_Airton Santos ao Flamengo - 5 milhões de euros foi o que custou, 3 milhões foi o que recuperámos na venda de 40% do passe ao Fundo de Jogadores

_Éder Luis ao Atlético Mineiro - FRACASSO desportivo e económico (2 milhões de euros por 50% do passe, inadaptação e empréstimo ao Fluminense

Subtotal: 3 aquisições, a um preço de 9 milhões e 600 mil euros


2010/2011

_Roberto ao Atlético Madrid - os celebérrimos 8,5 milhões de euros investidos jamais serão recuperados, mas essa é a menor das preocupações para quem tem mais dúvidas do que certezas na baliza.

_Jan Oblak ao Olimpija Ljubljana - 2 milhões por um miúdo, inicialmente dirigido aos júniores do Benfica, mas que foi cedido ao Beira-Mar

_Fábio Faria ao Rio Ave - os 2 milhões pagos por um jogador cujas qualidades são ainda um ponto de interrogação incluem a aquisição dos 20% do passe de Fábio Coentrão que ainda pertenciam ao Rio Ave

_Rodrigo Moreno ao Real Madrid - as prioridades dos nossos dirigentes andam trocadas. Gastar 6 milhões de euros num jogador acabado de sair de escalões jovens para logo o emprestar a outro clube nem merece comentários.

_Franco Jara ao Arsenal de Sarandín - os avultados 5,5 milhões que demos têm correspondência na qualidade que tem sido demonstrada, mas é mais uma opção para o ataque

_Nico Gaitán ao Boca Juniors - 8,3 milhões pelo argentino, que é grande jogador, mas... fará as vezes de Di Maria?

_Eduardo Salvio por empréstimo do Atlético com a duração de um ano, num negócio que envolveu a compra de 20% do passe por 2 milhões de euros

Subtotal: 7 aquisições, a um preço de 34 milhões e 300 mil euros

Foram estas, em geral, as aquisições que consegui apurar. Foram tantas que se torna fastidioso dizer mais acerca delas, mas a crueza dos números permite conclusões simples.

A primeira é, naturalmente, que nenhum Clube, por maior e mais importante que seja, pode aspirar a ter ou manter uma identidade e uma unidade de balneário quando em 3 anos se contrata 47 jogadores. 47 jogadores. É verdade que alguns deles não chegaram a "calçar" no Glorioso, e que no futebol moderno a dinâmica do mercado é tremenda, mas como é possível querer resultados depois de comprar mais de 4 onzes em 3 anos?

Afinal, qual é o propósito da nossa direcção? Abastecer outros clubes com activos que nos custaram os olhos da cara ou apetrechar o plantel com jogadores de qualidades e que preencham necessidades pontuais da equipa?

Ao todo, nestas aberturas de mercado, foram gastos 133 milhões e 324 mil euros. Um valor que dá que pensar, sobretudo porque os únicos valores de monta que percebemos em igual período foram os 20 milhões do Simão, os 18 milhões do Manuel Fernandes, os 5 milhões da transferência do Nélson, os milhões do Di Maria (não sei em concreto quantos), os 17 milhões das duas alienações dos direitos do Ramires e, vá lá, os 2,5 milhões que recebemos pela saída do Katsouranis. Francamente insuficiente para cobrir tanto gasto.

Aliás, nem entro em linha de conta com os milhões que têm pesado na folha salarial as dezenas de jogadores que se revelaram um fracasso, muitos deles ainda se arrastam como excedentários a treinar à parte no Seixal. Esse é outro custo cujo cálculo não foi feito, cálculo esse que seria sempre provisório.

Uma boa preparação da época é a chave para a forma como ela decorrerá. Pergunto-me o que teria sido do SLB se, em vez de gastar mais de trinta milhões de euros em 15 (!) jogadores, tivéssemos segurado o Simão, com uma melhoria salarial, e pago os tais 4,5 milhões pelo Miccoli. Certamente não nos quedaríamos num humilhante 4.º lugar essa época.

Gastar muito não é, de todo, sinónimo de gastar bem. Em 2009/2010, sob a égide do mesmo director desportivo, foi gasto sensivelmente tanto como em 2008/2009, mas os resultados não podiam ter sido mais distintos. Em primeiro lugar, porque houve alguma estabilidade no plantel, em segundo porque os activos foram melhor aproveitados, em terceiro porque algumas contratações-chave como Ramires, Javi e Saviola, as grandes apostas do defeso, pegaram de estaca.

Se calhar, e com bem maiores custos este ano, as grandes apostas não têm estado ao nível esperado e não foram contratadas com a necessária antecedência (Salvio), o que pode ajudar a explicar os problemas da equipa.

A cometer erros todos estão sujeitos, não reincidir neles é o segredo do sucesso. Infelizmente, continuamos a não dar espaço aos nossos jovens de singrar, e preferimos trocar as nossas referências pelo desconhecido. O modelo adoptado por Rui Costa acabou com o delírio da época trágica de 2007/2008, mas, apesar da menor quantidade de contratações, manteve-se na mesma linha o seu custo total, e agravaram-se as consequências de uma aposta mal sucedida.

Atenta a predilecção hispano-americana do Maestro, percebe-se que os maiores equívocos vieram de Espanha. Tendo em conta que vários valores emergentes do futebol português, como Sílvio ou Varela, estavam debaixo dos nossos narizes, não será importante olhar para o bem mais acessível mercado nacional?

Abraço

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